sexta-feira, 31 de julho de 2015



Confiança
Hoje eu entendo um pouco mais porque eu sou tão alucinada por montanhas, regiões montanhosas.
Entendi que tem muito a ver com a questão confiança. E compreendo mais a confiança. Confiança? Como assim? O que uma coisa tem a ver com a outra? Talvez muito mais que se pudesse imaginar. Porque quanto mais capaz a pessoa for intelectualmente, menos será a sua confiança. E isso se confirma quando se diz que o homem livre sempre duvida. Nada que alguém diga como sendo verdade ele acreditará. E quanto menos você for capaz intelectualmente, maior será sua confiança.
Um camponês confia, ele não tem nenhuma necessidade de duvidar. Ele coloca as sementes na terra e acredita na sua brotação, que irão crescer quando a estação certa chegar. Ele espera e crê. Por viver com as árvores, com as plantas, com os rios, as montanhas, não tem necessidade de duvidar. As árvores não são traiçoeiras, você não precisa se defender delas. As plantas não são astutas, nem políticas e nem criminosas. Você não precisa se precaver, você pode estar aberto.
E é por isso que quando você vai para as montanhas, repentinamente sente-se em êxtase. E de onde vem esse êxtase? Das montanhas? Não. Vem de você que colocou suas defesas de lado, que não sente mais medo. Quando você chega perto de uma árvore, sente a beleza. A beleza não vem da árvore propriamente dita, mas vem do seu interior. Porque com a árvore você não precisa de proteção, pode ficar a vontade, pode sentir-se em casa. As flores não irão atacá-lo por trás; as árvores não o assaltarão; elas não podem roubar nada de você. Assim, quando você vai para as montanhas, para o mar, para a floresta, você coloca todas as suas defesas de lado.
Por isso as pessoas que vivem em contato com a natureza são mais confiantes. Num país menos industrializado, menos mecanizado, com menos tecnologia, onde as pessoas podem viver em contato maior com a natureza, existe mais confiança.
E essa confiança genuína está se perdendo, em função da nossa ciência. A ciência prosperou muito, porém atingiu pouco para a felicidade humana. Na verdade a felicidade tem diminuído. E um milagre é inútil se não houver felicidade. Atualmente há mais tecnologia e conforto, mas menos felicidade. E esse foi o milagre que a ciência conseguiu. Quanto mais coisas podem ser feitas mecanicamente, menos você será necessário. E quanto menos você é necessário, mais se sente fútil, inútil, vazio. Qualquer dia desses, o computador o substituirá e então você não será absolutamente necessário. Poderá se suicidar, porque o computador fará tudo.
A felicidade surge quando você se sente útil, quando sente que sua vida tem sentido, que tem uma razão de ser, quando sente que sem você as coisas seriam diferentes. Mas atualmente nada é diferente sem você. Ou melhor, as coisas ficam bem melhores sem você, porque hoje as máquinas fazem tudo com mais perfeição. Você é apenas um obstáculo, mais uma coisa antiquada. O homem é a coisa mais antiquada dos dias de hoje. Todos os anos tudo vem numa versão nova, num modelo novo. Apenas o homem permanece antiquado. Entre tantos objetos novos surgindo a todo instante, o homem é a única coisa antiga.
O homem moderno está constantemente sentindo que não tem qualquer razão de ser porque, na verdade, quem precisa dele?
Quando todo universo precisa de você. Então você tem uma razão de ser, um significado. Mas, agora ninguém está precisando. Você pode ser dispensado facilmente, você não é nada. A tecnologia criou conforto e tornou o homem dispensável. A tecnologia tem feito melhores casas, mas não melhores homens, porque para isso outra dimensão é necessária. E essa dimensão é o da consciência.
A ciência não pode criar um Buda, ou um Jesus. Mas a ciência pode criar uma sociedade onde um Buda seja impossível. Porque podemos nos perguntar hoje em dia: Porque não existem mais Budas atualmente? O homem criou ou a ciência criou uma sociedade, que agora se torna cada vez mais difícil existir um homem simples, inocente. E mesmo quando ele existe você não o reconhece. A questão não é que os Budas não existem mais. A questão é difícil vê-los . No entanto, eles estão aqui. É possível que você tenha passado por eles todos os dias, a caminho do seu escritório, mas você não pode reconhecê-los porque está cego. A confiança desapareceu.
E Jesus, Buda e tantos outros mestres e avatares viveram na era da confiança, de uma profunda confiança. Toda sua glória, todo seu significado pode ser compreendido apenas através da dimensão da confiança.


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