sexta-feira, 20 de abril de 2012





A minha história e o nascimento do meu filho.








Relato do nascimento de Alessandro Scheibel de Carvalho no Hospital Regional Sul.


Estou aqui fazendo um relato de uma história que deveria ser a mais linda da minha vida e acabou sendo uma grande tortura nos primeiros dias de vida do meu filho.


Estou grávida de 36 semanas e cinco dias. E no dia 06 de Setembro às 20 horas rompeu minha bolsa e ai começou a minha jornada rumo ao pronto socorro do hospital Regional Sul de Santo Amaro – São Paulo que é a maternidade indicada pela UBS do Jardim Macedônia na qual fiz o meu pré-natal.


Assim que entrei no hospital, fui muito bem atendida e logo atendida. E assim chegando à parte da maternidade fui logo atendida pelo médico plantonista da noite e encaminhada para a enfermaria onde as enfermeiras já começaram os preparativos para o parto e fiquei tomando soro o resto da noite onde acho que estavam esperando para dar um parto normal possivelmente.


Mas amanheceu e logo nas primeiras horas do dia 07 de Setembro de 2011 já fui atendida pela médica plantonista e onde ela já me encaminhou para a sala do pré-parto e lá fiquei mais um tempo em observação e não sentindo nada de contração eles me encaminharam para o parto Cesário.


E já na sala de parto, tudo correu muito bem. Quando o meu filho nasceu o médico disse: nasceu seu filho! Nossa foi emocionante, ouvir o primeiro chorinho do meu bebê e o médico me perguntando: Como vai se chamar? E eu disse: Alessandro e o médico: Então nasceu o Alessandro Brasil, esse é um patriota! Porque era o feriado do dia da Independência logo trouxeram o meu filho para eu vê-lo, chorei mais um pouco, tanto que o médico me disse assim: Mãezinha porque você está chorando? Eu não conseguia responder e o médico continuou falando: Deveria ser um momento feliz da sua vida e eu pensando: Só eu sei como está sendo, mas fiquei muda porque não conseguia falar sou extremamente emotiva e sensível, a emoção era muito forte porque tenho 39 anos e esse é o meu primeiro filho e foi muito esperado e querido por mim e o pai dele, o meu esposo.


Até aqui está tudo que muito bem. O meu dilema começa agora; saindo da sala de parto fui para a sala de observação, onde você fica esperando a anestesia passar porque fiz a anestesia chamada raque e depois ir para sala de recuperação. Mas ainda na sala de observação a enfermeira que estava trabalhando lá naquele horário cometeu o primeiro erro, me ergueu a cabeça para almoçar e isso não tinha se passado muito tempo do meu parto porque eu ainda sentia a anestesia nas minhas pernas e permaneci mais um tempo lá e depois me levaram para a sala de recuperação no andar das gestantes ou das recém-mamães. E eu meio que sem noção direito obedeci à enfermeira, porque o meu filho nasceu às 9 horas e 31 minutos.


E chegando a sala de recuperação começam a minha tortura, as enfermeiras desse dia eram até muito boas, foram cordiais e prestativas me ajudando tudo no que eu precisava. O problema começa à tardinha entrando para a noite, começo a ter uma dor de cabeça persistente, as enfermeiras plantonistas desse dia ainda foram muito cordiais, entendendo o meu problema da dor de cabeça e ajudam a cuidar do meu bebê, mas começa outro problema junto com a minha dor de cabeça. A falta de bico nos meus seios. O neném começa a sentir fome e eu não tinha como alimentá-lo porque ele não consegue pegar o meu seio, foram muitas as tentativas e investidas e todas frustradas.


Então decidem que o meu neném precisa de suplementação. Então começa a chegar a suplementação de três em 3 horas e eu continuava as tentativas do meu filho pegar o peito, mas eu ainda não tinha leite, ai as enfermeiras disseram que até aqui estava tudo bem ainda, porque no parto Cesário as vezes demora um pouco mais a descer o leite e eu com uma dor de cabeça terrível não sabendo mais o que fazer, ai começaram a me colocar no soro, tomei soro e mais soro nessa noite, tudo era o motivo pela minha dor de cabeça, que eu tinha que ser muito hidratada e tomar muita água. Então eu tomava água e tomava soro direto, porque todas as mães que estavam comigo no quarto tomavam um soro e acabava e eu ali não parava de tomar soro, e toda vez que eu tinha que ir ao banheiro eu chorava sozinha no banheiro porque a minha dor de cabeça era simplesmente terrível quando eu levantasse da cama, era uma pressão terrível na minha nuca, parecia que a minha cabeça iria explodir. E eu tendo que controlar a minha dor e mais o fato de ter que amamentar meu filho recém-nascido, e o leite que não vinha e ele não conseguia mamar. Eu ficava desesperada pela chegada da suplementação porque ai eu conseguia dar o que comer pro meu filho e ele chorava de fome. E as enfermeiras diziam: Você tem que dar o peito. Mas dar o que? Se não saia nada. Em casa eu tinha feito tudo o que eu podia para tentar formar bico, comprei tira leite para puxar o bico, comprei conchas para a preparação do mamilo, comprei bico de silicone e tudo isso não custa barato, mas fiquei na expectativa de conseguir formar o bico, usei buchinha conforme as instruções que recebi nas reuniões na UBS e pelo médico e nada de muito promissor para conseguir ter esperança de poder não passar pelo estresse de não conseguir alimentar meu filho.


Então chega a Quinta-feira, não consegui dar banho no meu filho, porque não conseguia ficar em pé, porque a dor de cabeça era terrível, as enfermeiras deram banho no meu filho, mas já comecei a trocas as fraldas dele embora fosse terrível ficar em pé e fora que eu tinha que me erguer para dar o suplemento para o meu filho e toda vez que eu tinha que me erguer para fazer algo em pé, eu quase desmaiava porque era insuportável essa dor.


Então na Quinta-feira decidem fazer um procedimento chamado blood patch, onde o procedimento requer injetar sangue do próprio paciente no espaço onde ocorreu a anestesia, e lá fui eu, me levaram então para fazer esse tal procedimento, e lá chegando ao setor fui atendida por uma médica e ai fez anestesia local, me deram um tranqüilizante, fiquei que nem um zumbi, toda topada, mas ai ela não achava mais esse tal espaço e ela tentando achar e então a médica resolve fazer um novo furo ou espaço e ai a outra atendente tirou o sangue e ai a agulha da seringa dá problema e perde-se tudo e ai a médica tenta de novo e tenta e tenta e quase já desistindo e eu pensando: Meu Deus que ela consiga isso logo porque eu não estou mais agüentando. E ai finalmente ela consegue, mas numa segunda tentativa e fazendo novamente um novo espaço e ai parece que funcionou, “aparentemente funcionou” e fui novamente para uma sala de observação e lá fiquei por mais algumas horas. E assim que volto para o meu quarto eu já estava muito bem parecia que a dor de cabeça estava mesmo indo embora e fiquei imensamente feliz e aliviada.


Mas nessa noite de Quinta-feira começaria outra história, ai correndo tudo bem, feliz pela dor de cabeça que estava se indo, feliz por poder começar a curtir o meu filho, mas continuava a luta da amamentação e nessa terrível noite, eu chamo de terrível, porque nunca mais esqueci e choro até hoje dia 06–02–2012 porque não supero o fato dessa noite, foi aonde uma enfermeira plantonista da noite chega por volta da meia noite e eu tinha acabado de receber a suplementação da meia noite e ali dando o alimento pro meu filho e é aonde ela chega já gritando e já arrancando da minha mão o copinho de leite que eu tinha para dar para ele. Mas a enfermeira gritando: Ele não quer isso.... Ele quer seu peito. E nisso a enfermeira derramou praticamente tudo fora e ai eu entrei em desespero e dizendo pra ela que eu ainda não tinha leite e que o meu filho também não sugava por falta de bico. Eu preciso desse leite. E ela continuava a me falar mal e comecei a chorar e ai ela resolve levar o meu filho embora e dizendo: Que se eu não o amamentasse, ele não iria pra casa comigo, ai voltei a entrar em desespero porque eu comecei novamente a chorar e imaginando como eu poderia fazer isso e eu não aceitava o fato do meu filho não voltar para casa comigo.


Mas a enfermeira nem liga pra mim e leva meu filho embora aos prantos e lá fiquei sozinha chorando e pensando do que estava se tornando a minha vida, comecei a ter raiva e um monte de outros sentimentos, chorei acho que umas duas horas e as próprias mães que estavam junto comigo no quarto acharam essa atitude da enfermeira desumana, porque elas mesmas me disseram e comentaram sobre a depressão pós-parto porque o que eu vivi naquele momento era tudo para eu entrar nisso. E então depois disso tudo a enfermeira resolve trazer meu filho de volta e ai ela disse: Você continua chorando! E eu: Mas a senhora queria o que? Eu fiquei aqui sozinha não sabia para onde tinham levado meu filho e eu presa aqui nos soros. Eu não tenho leite, o que eu posso fazer? Comecei a ficar cada vez mais com medo, muitos medos começaram a surgir, medo de não poder amamentar, medo de ter que ir embora e sem o meu filho, medo que tirassem o meu filho e levassem ele pro berçário. Enfim eu vivia sob pressão o tempo todo e a toda hora alguém vinha me perturbar por causa da amamentação ou quando vissem o meu filho sendo alimentado pelo copinho.


Eu a partir dessa noite não tive mais paz, eu estava constantemente com medo, tive muitas crises de choro, comecei a me culpar.


No dia seguinte na Sexta-feira logo de manhã vem a equipe do banco de leite que é uma campanha pela amamentação dentro do hospital e me leva para uma pequena palestra e estimulam os meus seios com um tira leite elétrico e ai parece que começa a estimular mesmo e começo a ter algumas gotas de leite, mas a dificuldade do bico impede do meu bebe pegar. As atendentes do banco de leite avaliaram a situação e me disseram que seria difícil mesmo e elas mesmas reconhecem que eu tinha um seio difícil e por ser o meu primeiro filho, era mais complicado.


E ai eu comento sobre o episodio da noite de Quinta-feira e elas mesmas dizem que sabem até quem é que faz isso. Porque elas se olharam entre si com ar de indignação. Então isso me parece um fato corriqueiro que talvez algumas mães passassem nesse hospital.


Mas continuando na Sexta-feira por volta do meio dia começo a novamente ter muita dor de cabeça e começa o meu drama de novo. E ai eu recebo a visita de um anestesista que vem conversar comigo a respeito da minha dor de cabeça e ele mesmo me sugere a não mais repetir tal procedimento blood patch e sugere que eu continue tomando muita água e ir levando essa dor até o fim que segundo ele iria durar por volta de 15 dias, mas ela durou exatamente 20 dias.


E a noite para completar veio uma estagiária acho, porque era uma moça muito jovem e falando difícil com ar de superioridade e me pergunta como eu estava e novamente veio me ameaçar de levar o meu bebê para o berçário, ai eu entrei em pânico de novo, eu vivia com esse medo sempre pairando sobre minha cabeça. Era um estresse constante sobre mim, sendo que eu me preparei tanto para ter esse bebê, curti muito a gravidez, meditava muito conversava muito com ele, era a minha realização como mulher. Mas parece que conseguiram estragar todo esse meu momento, carrego hoje muita culpa por não ter conseguido amamentar porque era o que mais eu queria poder ter dado pro meu filho e sinto que me tiraram isso de mim, sinto que me arrancaram isso de mim por me submeterem a tanto estresse desnecessário. Vivi a maior pressão da minha vida e eu ali tendo que cuidar de outra vida que acabara de nascer. Eu não via a hora de sair do hospital de ir para casa e ficar sozinha. Então me seguraram no hospital um dia a mais por conta da minha cefaléia, mas eu já não estava mais aguentando essa pressão, esse desgaste emocional. Fiquei aliviada quando a pediatra veio me visitar na Sábado pela manhã dando alta para o meu bebê e ai eu tive a certeza de que ele iria para casa comigo e pela tardinha eu também recebi alta e podemos ir para casa juntos.


Eu com toda aquela dor de cabeça terrível eu fiquei imensamente feliz, mas marcada com um estresse terrível, porque em casa ai ainda sentia esses reflexos e como ainda sinto até hoje, porque eu me culpo até hoje por não ter conseguido amamentar meu filho e toda vez que saio para rua e as pessoas veem o meu filho sendo alimentado por uma mamadeira me questionam sobre isso e dizem que é feio. Que eu teria que ter amamentado sinto uma frustração enorme como mãe, as vezes não me sinto mãe até mas agora não há mais nada para se fazer a não ser deixar essas feridas cicatrizarem e deixar o tempo correr e viver cada momento da maneira que tem ser.


Eu posso não ter sentido as dores do parto, mas senti a dor da minha alma sendo ferida toda vez que ameaçavam de tirar o meu filho de mim, o meu amor por ele foi multiplicado em muitas vezes mais por ter aguentado firme e não ter esmorecido. Mas eu não queria que nenhuma mãe fosse tratada dessa forma e vejo que essas campanhas de amamentação abordam o tema com certa agressividade e imposição e assim fazendo que muitas mães não consigam amamentar seus filhos por estresses. Se o assunto fosse abordado com mais amor e com mais gentilezas e com certa sutileza e leveza acho que teríamos um mundo muito melhor, muito mais mães conseguiriam amamentar seus filhos e teríamos pessoas muito mais humanas e amorosas, que superariam muitos traumas por não querer amamentar seus filhos, porque amamentar para mim é mais um ato de amor do que um ato meramente físico de alimentar um filho, o alimento é necessário, mas uma pessoa nascer sendo amada e querida também é fundamental para que as gerações futuras possam evoluir para um bem muito maior: que é a vida e o ser acima de tudo.


Peço desculpas por não ter escrito antes esse relato, mas não me senti em condições e ainda hoje isso machuca ao falar e escrever sobre o assunto, me gera muito estresse ainda, me gera muita perda de coisas importantes para mim, sentimentos que eu não vivi coisas que não vivi coisas que foram arrancadas de mim por pessoas despreparadas para lhe dar com pessoas, num ato tão lindo que é trazer ao mundo uma nova vida.






Atenciosamente:


Corete Silvane Scheibel